sexta-feira, 14 de agosto de 2009

França no seu melhor – parte 2

Baguette. Esta palavra que os franceses atribuem a um pão estreito de consistência branca e estaladiça é, para um cidadão luso que se preze, um motivo de emaranhada reflexão.

Primeiro, as boas conclusões. É um pão positivamente guloso e que se consome divinamente, com ou sem manteiga. Mas atenção, que isso só é possível se o consumirmos dentro de um prazo relativamente curto – penso que duas horas, quarenta e três minutos e uns quatro segundos. Após este tempo ele misteriosamente metamorfoseia-se em algo tão duro que pode perfeitamente servir como macaco para mudar o pneu do carro, alavanca para mover uma rocha ou arma de defesa em caso de ataque de um meliante. Ou, caso este fenómeno não se concretizar, obtemos algo semelhante a uma pastilha elástica de tamanho incomum que nenhuma faca corta.


Agora, os dados mais chocantes. Para alguém habituado a viver num país que tem um museu do pão (em Seia), o pão de Mafra, o pão alentejano, a broa de Avintes, o pão de milho e um sem fim destes produtos em que é imensa a variedade de sabores, formas, texturas e aromas, este reinado absoluto da baguette é sufocante. Sim, porque quando em França vamos a uma loja, a única animação é escolher o tamanho e a largura da menina!

Depois, a questão da higiene. É um espectáculo, digno de assistir de poltrona, ver os franceses a transportar o pãozinho pela rua! Levam a sua baguette debaixo do sovaco, no cestinho da bicicleta, no banco traseiro do carro ou a espreitar do saco das compras. Mas, sem qualquer invólucro que a separe, ou proteja, do mundo exterior. Prontos, estou a ser injusto! A verdade é que por vezes ela vai parcialmente enroladinha num pedaço de papel que não abrange mais de um quarto do seu tamanho. E este papel costuma ser um daqueles prospectos que as lojas têm que, após já não servirem para nada, servem para “garantir a higiene” deste produto alimentar. Tipo folha de lista telefónica para as castanhas assadas.

Termino esta perturbadora análise por descrever a minha ida á loja para comprar o pão, perdão, a baguette. Após percorrer todos os corredores, não encontro a dita cuja. Já sem esperança, fico aliviado quando vejo o cestinho fofinho de palha estrategicamente colocado atrás da caixa de pagamento. Quando chega a minha vez, peço, com o melhor sotaque, a baguette. A senhora, com um sorriso simpático e eficiente, pega no pãozinho, perante a minha surpresa, com as mesmas mãozinhas que estava a usar para a mexer no dinheiro. O acto seguinte foi colocá-lo em cima da superfície onde desfilavam as compras de toda a gente. Assim, sem cerimónias. E anuncia solenemente – em francês, claro! – que são noventa cêntimos. Eu pago, e fico a olhar para ela. Como sequência, ela primeiro olha para a baguette e, seguidamente olha para mim, como que tentando comunicar numa espécie de esperanto visual: pega nisto e despacha-te que tenho gente para atender, ó tuga! Como logo vi que isto não ia com olhares, peço-lhe, com todas as sílabas, algo para levar o pão. Após uns segundos, ela ostenta um ar vitorioso de quem descobriu, finalmente, a ligação entre o que pedi e o que tinha comprado, e dá-me um minúsculo saquinho transparente, que devia ser daqueles para levar azeitonas. Melhor que nada, penso eu. E vou orgulhosamente andando na rua, como um francês com a sua baguette. Prontos, como um francês, francês, não totalmente. É que não que não tive coragem de enfiar o pão no sovaco, levei-o na mão.

4 comentários:

Anónimo disse...

Ils sont fous, les français...
Realmente os franceses não me cativam muito, (nem as baguettes), mas gosto da França, da sua língua e da sua cultura onde nós portugueses fomos buscar tanta coisa...
Boas férias.
João Carlos

Anónimo disse...

E partiste a baguette ao meio, acidentalmente? É o principal sinal para se saber que não é um autóctone que a leva... ;) Abraço, boa continuação!

com senso disse...

Que os franceses têm fama de porquinhos, têm.... Aliás o interesse que aos perfumes não vem do acaso...
A forma como tratam o pão, pouco higienicamente sempre me deixou perplexo e isto no país do Pasteur.
Quanto à questão do lavabos no post anterior, não sabia.... Mas isso será em casa antigas, ou é mesmo assim nos prédios mais recentes...
É que nas zonas antigas de Lisboa, os prédios nem casa de banho possuiam e muitas vezes a sanita, a que chamavam de pia ficava junto a uma janela, em cozinhas e mesmo até em pequenos cubiculos colocados nas varandas!
De qualquer modo acho a França um país fascinante...
Boas férias gaulesas!

Anónimo disse...

La baguette no es pan, es chicle. Es una tomadura de pelo. Viva el buen pan, portugués o español.