sábado, 2 de abril de 2011

Montras

Olhava-as como quem destroça sonhos sentado num sofá. Nada vivia lá. Apenas cenários feitos de papel e que, como suprema cortesia, eram merecedores de serem rasgados em pedaços. Apenas luzes que se vangloriavam de sua escuridão. Apenas cores inúteis. Tautologia pura. Como um sonho que se destroça quando estamos acordados, assim também só depois de nos arrancarmos à sua anestesiante envolvência é que vê a dimensão por detrás da superfície. Uma teia pegajosa que nos imobiliza enquanto faz soar sardonicamente a mais inocente das melodias. Um cosmos que sonha ter as competência de um buraco negro. Um ferrugento sorriso de palhaço. Braços frígidos que nos querem abraçar. Podia continuar este discurso deprimente se desse atenção aos corredores, aos tectos, a todo aquele panorama gerado a esquadro e régua que pretendia ser alguma coisa genuína. Mas era cansativo. Ficava apenas pelas montras.

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